Nascendo Lia...

7 anos  antes...

...saí daquele hospital com Theo no colo, ele quieto, eu apesar de cheia de amor, chorava certa de que nunca mais voltaria a parir novamente num lugar daqueles, se não em meu lar.

9 meses antes...

Xixi no palitinho, dois risquinhos: Grávida!! Nossa! Me olhei no espelho, meu rosto vermelho, meu coração dava pra ouvir na esquina, olho para o Theo que dormia em minha cama e abri o berreiro "... como assim outro filho, eu sou a mãe do Theo!!", mas essa agonia durou segundos, logo fui tomada por uma sensação estonteante de felicidade por saber que mais um ser estava sendo gerado em mim!

Assim como na gravidez do Theo (Nascendo Theo...) nada havia sido planejado e estava apreensiva para contar ao Márcio, que chegaria de viagem em algumas horas. O Márcio teve o Theo com 21 anos e eu com 26 e sempre que conversávamos sobre a possibilidade de um segundo filho, sonho meu, ouvia: " Claro meu amor, vamos ensaiando bastante" Ai que raiva!!!

Márcio chegou, abriu a porta, me olhou, abriu um baita sorriso e disse: Você está grávida né? É! Buáaaaaaaaaaaaa!!! Nunca vou me esquecer a forma madura em que ele ouviu e reagiu ao meu "é"! Simplesmente tudo que uma mulher quer ouvir do seu parceiro nesta hora eu ouvi dele... nossa que alívio, que felicidade: EU ESTOU GRÁVIDA MESMO! Ao contar para Theo ele me abraçou e chorou.
A gestação do meu segundo filho começou no momento que pari o Theo, que foi um parto normal (Graças a Deus!) bem invasivo com um plantonista de um hospital que já fechou, veja só! No momento em que saí da maternidade pensei: O próximo prometo pra mim que será um parto mais "legal"!! Até então era o máximo qua passava em minha mente.
Por sentir que algo havia faltado neste processo "parto" inconscientemente e verdadeiramente criei o "Acalanto" e por conta deste curso acabei me deparando com o Gama, depois de ter ministrado em inúmeros lugares bacanas, mas não tão especiais.
Fui atrás de informação e mergulhei de alma neste assunto... o parto!
Entrei na salinha do Gama, lotada, sentada ao meu lado estava Ana Cris, foi amor a primeira vista, juro, olhei pra ela e disse: meu segundo filho será com você... dito e feito e 7 anos depois...

Escolha feita depois de muitas barreiras, lágrimas, diálogos, coragem e finalmente a caída da minha ficha: Parto domiciliar, sem volta!

Márcio sempre me apoiando na escolha, sempre dizia: siga seus instintos, estou com você!



40 semanas e 5 dias... eu e Márcio já havíamos feito umas cinco compras de mercado para "a equipe", era sempre a compra "da equipe", mas Lia não nascia e a compra "da equipe" eu comia, aliás no final com 20kg a mais! Eita!



20h do dia 21/05/2008. As famosas coliquinhas começavam e eu magicamente sabia que estava iniciando meu TP, mesmo sendo tão fraquinhas, continuei minha noite normal, rotineira.

21h Minha querida amiga Cris valle chega para uma rápida visita com presentinho e o clima da minha casa está delicioso , em seguida chega minha sogra para pegar Theo, pois havíamos combinado que ele dormiria na avó no dia do parto (depois percebi que foi a MELHOR escolha) e eu mantendo minha pose de "veja só que tranquilo". Para animar mais a casa, mais ou menos umas 22h chega o Gallo e a Elena, integrantes do circo VOX (Indico é demais!) para pegar uma coisa com o Márcio para o espetáculo deles e começam a ensinar malabares para o Theo, festa total e eu lá... já parando para respirar (mas com uma cara ótima). Todos foram embora juntos. O Márcio começa a arrumar a "mesa de comidinhas da equipe", clima relax, minha irmã chega e vamos assistir ao programa American Idol.

23h as coisas começando a apertar um pouquinho mais, mas ainda tranquilo, apenas fechava os olhos e me concentrava, pois minhas contrações já estavam dando sinal de dorzinha na lombar e não é que chega minha mãe com meu padrasto de Paraty, com vinhos e charutos, pode? Eles são umas figuras... eles haviam me pedido que avisasse quando iniciasse o TP, pois de Paraty onde moram são 4 hs de viagem até minha casa. Mas sabiam que eu não queria ninguém no TP, apenas minha irmã. Mas ninguém queria mesmo ficar.
Resolvemos não contar para a família sobre o PD, mas não conseguimos... mandamos um email bem maduro e educado para todos mostrando que respeitávamos a preocupação deles, mas que não gostaríamos de palpites. Eles foram ótimos!
Minha mãe e Paulo foram embora, 1h da madruga, falei pro Má, vou descançar porque pelo que sei a coisa tende a demorar! Até parece que consegui dormir, chamei o Márcio e começaram as contagens... 7, 6, 7, 12 min.
" Má liga pra Ana?" Falei já sentindo uma dor legal... o Márcio falou com ela e foi pedido que ele retornasse quando as contrações estivessem com intervalos de cinco minutos. Eram 3h e disse: liga pra Ana e lá vai o Má ligar... ela tá vindo e pediu para vc ir para o chuveiro.
Pedi um banquinho para o Márcio e fui para o chuveiro (bom demais), nessa hora as contrações começaram a ficar bem doloridas, já dando umas respiradas ritmadas, incontroláveis, mas ainda dava pra curtir. A Ana chegou, nos olhamos e rimos e ela disse " Já deu pra perder a graça né Isa?", mas fiquei tranquila quando ela disse para o Márcio que não precisava mais contar os min pq que ela tava ali. Não sei quanto tempo fiquei no chuveiro, mas num certo momento quis sair. Mais ou menos umas 4:30 chega a Dra Andréia com a Márcia para me examinar e fazer por precaução a aplicação de um antibiótico, pois meu exame de Strepto havia dado positivo (hj em dia não faria este exame). 4 cm de dilatação... jura? Achei que estivesse mais, pq a dor era punk já! A Dra A e Márcia voltaram para casa e me pediram que eu tentasse dormir (A tá!), daí que eu pensei "Nossa, estamos no começo"



Sentei na ponta da cama, todos haviam sumido, silêncio total, cadê a Ana Má? Tá lá embaixo conversando com a Isabela (minha irmã)... aiiiiiii. As contrações ficavam cada vez mais fortes e eu respirava profundamente, alternando com respirações de cachorrinho, mas nada pensado, fazia o que meu corpo pedia. Não conseguia sair daquela posição na cama, na ponta com o pé em cima da caminha do Theo (que ficou um mês dormindo no nosso quarto). O Márcio estava o tempo inteiro comigo, me apoiando, respirando junto, perguntando o tempo inteiro se eu precisava de alguma coisa. Apoiando literalmente, em alguns momentos eu precisava dar uma jogadinha no meu corpo para traz e ele se ele não me segurasse, iria capotar!

Engraçado que quando vinham as contrações, tinha que ficar paradinha, mas meus pés se mexiam muito! cada um com as suas doidêras!

O dia começou a clarear e a dor ficava cada vez mais intensa, as vezes bebia um pouco de água e consegui comer um pouco de caqui... milagroso, porque me deu mais energia, mas nessas alturas eu estava esgotada, tudo que eu queria era dormir! É impressionante o poder que temos de dormir entre uma contração e outra e pesado, chegava a sonhar, em 30 segundos! Impressionante.

Ouço as pessoas dizerem que foram à partolândia e não se lembram muito bem de como tudo ocorreu, mas apesar do sono, eu estava completamente sóbria, lembro de casa segundo do meu TP.

ANAAAAAAAAAAAAAAAAA vem aqui!!!! Nossa, como doía, vi a Ana subir na minha cama e me fazer uma massagem (deliciosa), mas pedia que ela apenas presionasse, não podiam nem me tocar com movimentos que eu morria! Eu e o Márcio fizemos uma super seleção de músicas para o parto e quando o Má colocou o primeiro CD dei um berro TIRA ESSA MÚSICA!!!! É impressionante como não conhecemos nossas reações, bem eu que trabalho, vivo, como música, neste momento não queria ouvir um pio! Vi a Ana indo... volta, volta (fraquinha de dá dó!), mas o Má lá, firme e forte, segurando a onda!! Eu me lembro que a cada contração eu pensava... vem, abre meu corpo para meu bebê nascer, pode doer e isso me tranquilizava muito, abre bacia, abre osso...
Estava cada vez mais orgulhsa do meu controle e concentração, bem eu que nas aulas da escola não podia passar uma mosca que eu ia junto com ela, tamanha dispersão!

Em nenhum momento passou pela minha cabeça a anestesia, aliás nem me lembrei que existia!




8hs Toda a equipe estava em casa, a Dra Andrea não me examinou mais e senti uma vontade de gritar, mas gritar muito alto, como jamais havia gritado antes e a cada contração vinha um AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA longo, gutural, impressionante, lindo! Quando vinha uma contração muito forte a próxima era mais tranquila, mesmo... impressionante, o Márcio e a Ana falavam.. ah,  essa foi mais fraca!! Minha querida irmã ia e vinha o tempo todo, pois segundo ela, não queria atrapalhar o meu momento e do Má, estávamos muito entrosados! Em certo momento, a Ana veio até mim, eu olhei pra ela com cara de cansaço e pergutei se estava acabando e ela muito sábia segurou minha mão e disse "o seu TP está onde tem que estar, não olhe para o relógio, deixa rolar e eu sei com quantos cm vc está, pelo seu som, de 7 a 8cm". Deixei rolar... mas de repente comecei a fazer um som diferente
, como se fosse um hum, hum, forcinha de leve... nesse momento, sei lá porque pedi a banheira e lá foi a Ana C correndo para encher a piscina no banheiro. Já eram umas 9:30, estava frio e meu chuveiro não segurou a onda e era um tal de corre corre com água esquentada no fogão, todos correndo para cima e para baixo e o Márcio ali comigo, segurando minha mão! Eu falava, já deu Ana, posso ir?... calma Isa, já está quase lá... e a vontade de fazer força ia aumentando e a dor imensamente menor, diminuindo, ou melhor, transformando, mas ainda DOR. Falei pra Ana que tinha medo de ir no meio de uma contração, pois não aguentaria a dor no caminho e ela pediu que eu esperasse o próximo intervalo, antes dela terminar de falar saí correndo, foi até engraçado!







Entrei na banheira, nossa, que gostoso, mas como havia passado o TP inteiro em uma posição, estava tonta de medo da dor, fiquei de quatro, veio uma contação e não rolou, doeu mais do que eu imaginava... eu gritava e todos me acalmavam. O Má sentou fora da banheira e prendia meu cabelo com todo carinho enquanto a Ana molhava minhas costas com água quente.
Não queria ficar naquela posiçao e resolvi me virar, mas quando me virei, meus gritos pararam e mais do que magicamente a dor também e a vontade de fazer força ficou simplesmente incontrolável. O silêncio tomou conta do banheiro, estavam todos lá, não sentia mais dor e sim um desconforto de "corpo se abrindo", percebia a presença de cada ser naquele lugar... Má me abraçando, Dra Andréa sentou onde estava Ana Cris, Márcia, minha querida irmã, Marcelo Mim (fotógrafo) e sua esposa Lu.

Comecei a fazer força, principalmente quando vinha a contração, sentia a cabeça da Lia descendo, incrível!!! A Andrea falava comigo, mas como ela fala rapidinho eu não entendia, pedi que ela repitisse e ela então disse "faça força fora das contrações para não lascerar" A Tá, arrã! Como assim, não me peça isso, mas eu estava conseguindo! Fiz umas 3 forças, apareceu o topo da cabecinha da Lia, eu podia ver, neste momento o Má e Isabela já estavam chorando. Eu ouvia "Isa, tá nascendo..." e eu concentrada... o silêncio era incrível, inclusive na rua pois era feriado e dia do nascimento de Buda. Ouvia os pássaros, muito nítido esse som!

Outra força, saiu a cabeça, não senti o famoso anel de fogo, nossa que sensação inexplicavelmente maravilhosa, ouço a Dra A falar "não tem cordão no pescoço", senti algo se mover e pedi para a Dra Andréa que não colocasse a mão, pq estava muito sensível e ela me disse que não era ela, era a Lia se virando para encaixar, adorei ouvir aquilo, fiz carinho na cabeça dela e aguardamos a próxima contração, de repente mais uma força NASCEU, magicamente minha Lia na água, com apgar 9/10 as 10:05 de uma linda manhã de 22 de maio de 2008!! Vem Lia, vem pro peito da mamãe!





Não consigo explicar em palavras a sensação, o sentimento, o amor que senti naquele momento, a sintonia de todos nós era linda, a energia era densa, dava pra pegar. Eu não senti vontade de chorar, estava em êxtase... olhei para as pessoas estavam todos muito emocionados. Olhei para o lado e vejo a Dra Nina, pediatra chegar, nossa, quanta novidade!





Peguei a Lia, coloquei em meu seio, ela sugou na hora, com força, com fome, ...Dra Nina pediu que sentíssemos o cordão umbilical pulsar, amei, assim que parou o Márcio cortou o cordão e este momento foi muito marcante para mim, estava enfim não grávida mais e em minutinhos saiu a placenta (dorzinha chata, afinal o melhor já tinha acontecido), peguei a placenta na mão e fiquei brincando com ela na água, era gostosa de pegar! Todos deixaram o banheiro e ficamos por um minuto eu, Márcio e Lia curtindo nossa linda cria, nossa vitória, nosso prazer, a resposta do nosso amor (cafona , mas é bem isso), AGORA SIM, EU NÃO ESTAVA ALI! " Me ensina a não andar com os pés no chão"...

O cansaço sumiu, eu era pura adrenalina! Não queria sair da banheira, estava tão bom, tão quente, tão confortável, me deixem aqui? Não deixaram! Precisava sair da água quente para não baixar muito a pressão!

A Dra A precisava ver como tinha ficado td lá nos países baixos... uma lasceraçãozinha pequena, que foi resolvida em minutos com alguns pontinhos, bemmmmmm menor que episiotomia (corte no períneo desnecessário) feita em hospitais!
Volta a realidade, fui para a cama, deitei, a Lia mamou durante muitas horas e adormeceu em meu braço.
















Theo chegou, muita emoção nesta hora...


















Enquanto estávamos lá em cima ninando e esquentando a Lia, a festa lá embaixo estava ótima...
















...e a vida enfim voltou a sua rotina normal, com mais um amor, com mais um ser para nos trazer luz e cor! Seja Bem Vinda nossa Lia!




Agradecimentos...


Gostaria de dizer um imenso obrigada, dando um forte abraço...
Theo e Lia, Obrigada por ter nos escolhido como pais, faremos de tudo para que vocês cresçam seres humanos do bem e possam emanar esse amor por toda sua vida!

Márcio, meu grande e único amor, pela força, pelo colo e ombro, pela maturidade, pelo bom humor e dedicação em cada minuto da nossa vida!

Isabela, pelo prazer de tê-la comigo no dia mais intenso da minha vida, te amo!

Ana Cris, por existir e encabeçar com coragem essa causa e informar as pessoas, mostrando que podemos e devemos ser tratadas humanamente no nascimento de nossos filhos, e as sábias palavras na hora certa! Sou sua fã!

Mãe, por me apoiar mesmo sendo fã de carteirinha de uma cesária com anestesia geral, reconheço seu esforço e amor eterno!

A Mim, por quebrar um histórico imenso de cesária na família! EEEEEEE

Dra Andréa, por sua leveza, sutileza, segurança e sorriso!!

Márcia, Nina, pelo carinho comigo e Lia nessa hora!

Marcelo Min e Lu, por me proporcionar tamanha felicidade ao relembrar do parto com imagens, pela sua discrição e lágrimas na hora do nascimento! (http://www.fotogarrafa.com.br/)

Lista... pelos inúmeros relatos, que me trouxeram informação e a certeza de que eu não era ET e que são assim mesmo que as coisas acontecem!! Nós somos F...!

Um grande beijo para meu pai Reinaldo que queria participar de tudo e não deixei, Vânia, Paulo, Bernadete, Roberto Luiz, Fábio e Fê!

Se esqueci de alguém, desculpe, estou muito emocionada!


Livros que li...
Quando o corpo conscente
Do ventre ao berço
Parto Ativo
O bebê mais feliz do pedaço
Meditação para gestantes

Músicas que ouvi...
Vida de bebê - Acalanto
Meu neném - palavra Cantada
Canções de ninar - Palavra Cantada

Cursos que fiz...
Yoga
Hidroginástica
Acalanto

Obs. Pintei minhas unhas do pé de vermelho para o parto, pari de meia...

Sites legais...
http://www.maternidadeativa.com.br/
http://www.fotogarrafa.com.br/
http://www.projetoacalanto.com.br
www.myspace.com/acalanto

Com o nascimento de Lia, nasceram também, dentre milhões de coisas...
www.maternaemcanto.blogspot.com
www.cinematerna.com.br
www.partocomprazer.com.br/?tag=parto-com-amor (fotos e relato do nascimento de Lia nesse lindo e sensível livro de Marcelo e Luciana)


Um grande beijo...

Isadora canto
http://www.projetoacalanto.com.br/

Hoje...
no mesmo edredon em que nasceu...